A importância de realizar exame de sangue preventivo

A importância de realizar exame de sangue preventivo

Boas práticas e benefícios da medicina preventiva

As pessoas estão cada vez mais preocupadas com a saúde e buscam novas formas de prevenir doenças. Manter hábitos saudáveis, como praticar exercícios físicos regularmente e ter uma alimentação balanceada, é prática indicada por profissionais da saúde para evitar problemas futuros. Um outro bom hábito de saúde é a realização de procedimentos preventivos, como é o caso do exame de sangue.

Recentemente foi notícia no portal Exame.com: câncer de pulmão é detectado com exame de sangue. Apesar dos estudos ainda estarem em análise, a descoberta trouxe um grande benefício: um simples exame de sangue é capaz de diagnosticar precocemente doenças graves que demandariam exames bem mais complexos e demorados.

diagnóstico de câncer com exame de sangue ainda é novidade no setor, mas detectar doenças como diabetes e colesterol já é comum entre os pacientes. O principal benefício, nesse caso, é detectar a doença quando ela ainda está em um estágio inicial e possui tratamento. Controlar níveis de gordura no sangue, por exemplo, também tem influência no surgimento de outros problemas, como infarto e pressão alta.

Redução de custos para o sistema de saúde

Além de contribuir para o tratamento, o diagnóstico precoce gera redução de custos para quem está doente. Quanto mais cedo a doença for detectada, mais simples serão os procedimentos realizados para curar ou estabilizar o problema. Vale ressaltar ainda que um exame de sangue é mais barato que uma ressonância ou uma tomografia, por exemplo. A facilidade e agilidade de retirar uma amostra e sangue para análise também tornam o procedimento mais acessível.

Nós do Laboratório Apolo oferecemos para nossos clientes de Manhuaçu e região várias opções de check-ups, confira aqui.

Testes BRCA 1 e 2 – Diagnóstico rápido e confiável, essencial para a saúde da mulher

Testes BRCA 1 e 2 – Diagnóstico rápido e confiável, essencial para a saúde da mulher

Você já ouviu falar de algumas mulheres que optaram por fazer mastectomia preventiva após detectar alteração dos genes BRCA?

BRCA 1 e BRCA 2 são os dois genes responsáveis pela Síndrome de Predisposição ao Câncer de Mama e Ovário Hereditários. Quando existem mutações germinativas em um deles, há aumento nas chances de se desenvolver alguns tipos de câncer, como mama (85%) ou ovário (de 20% a 45%).

Esta associação entre mutações germinativas nos genes e a predisposição ao câncer foi o marco para o início de testes genéticos preditivos. O objetivo destes testes é identificar os indivíduos com maior risco de desenvolver este tipo de câncer e assim realizar medidas preventivas para a detecção precoce que proporciona uma taxa de sobrevida melhor.

O exame de sequenciamento dos genes BRCA 1 e 2 é indicado para indivíduos que preenchem os critérios diagnósticos da Síndrome de Predisposição ao Câncer de Mama e Ovário. Para saber se este exame deve ser realizado, o histórico pessoal e familiar do paciente deve ser avaliado por um médico geneticista ou oncogeneticista. Este profissional irá realizar o aconselhamento pré-teste, parte fundamental do processo diagnóstico do paciente.

Como funciona

Por meio de uma coleta de sangue, os genes sãsequenciados em plataformas de nova geraçãcom alta capacidade de processamento de dados, oferecendo rapidez e confiabilidade.

Existem 3 possibilidades de resultados: negativo, positivo (com a identificação de uma variante patogênicae incerto (quando uma variante de significado clínico incerto é identificada).

Caso o sequenciamento do gene seja negativo, é indicado realizar a pesquisa de deleções e/ou duplicações por MLPA, que não são identificadas no sequenciamento e podem ser responsáveis por até 12% dos casos.

NIPT – Teste Pré-Natal não Invasivo mais moderno

NIPT – Teste Pré-Natal não Invasivo mais moderno

O NIPT, Teste Pré-Natal Não Invasivo, é um teste genético de última geração que usa uma amostra de sangue da mãe para analisar o DNA fetal circulante no plasma materno. Ele detecta alterações cromossômicas, como a Síndrome de Down, que podem impactar a saúde do bebê.

O teste é indicado para todas as mulheres de gestação única, gemelar* ou ovodoação** a partir da 9ª semana. (*até dois bebês / **feto único)

O NIPT indica o risco do feto ser portador de anomalias cromossômicas que causam síndromes, como a de Down (trissomia do cromossomo 21), Edwards (trissomia do cromossomo 18), Patau (trissomia do cromossomo 13), DiGeorge (microdeleções do cromossomo 22) e outras que afetam os cromossomos sexuais X e Y.
Este exame pode ser feito por qualquer gestante, a partir da nona semana de gravidez
No caso de gêmeos, o NIPT identifica se são idênticos ou diferentes
Desde 2018, ele é recomendado pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)

A metodologia utilizada é exclusiva, baseada em SNPs (Polimorfismo de Nucleotídeo Único) analisado por sequenciamento do DNA fetal e materno, presente no plasma a partir da 9ª semana de gestação.

O NIPT oferece dois tipos de Panorama: o Básico e o Expandido.

Panorama Básico

Trissomia dos cromossos 21,18,13 x e y
Monossomia do x
Microdeleção 22q11 – Sindrome de DiGeorge
Triploidia

Panorama Expandido

As mesmas condições do Panorama Básico
Síndrome da deleção 1p36
Síndrome de Cri-DU-Chat
Paterno – Síndrome de Prader-Willi
Materno – Síndrome de Angelman

Os diferenciais do Panorama são:

Único que distingue DNA materno e fetal
Identifica triploida, gestação com gêmeo desaparecido e gestação molar
Determina zigozidade e sexo fetal individual para gêmeos

O Hemograma completo: novas ferramentas para um exame tradicional

O Hemograma completo: novas ferramentas para um exame tradicional

Novos parâmetros para uma tradicional mas inespecífica ferramenta diagnóstica trazem informações inovadoras para o uso clínico do hemograma

Por Dra. Adah Conti*

O hemograma é um dos exames mais solicitados na prática médica de todas as especialidades, pois traz informações que, apesar de inespecíficas, são relevantes não só quanto às doenças primárias do sistema hematológico como também – e principalmente – com relação ao auxílio diagnóstico e acompanhamento de qualquer afecção com componente infeccioso e/ou inflamatório. O exame reflete uma fotografia instantânea das células hematopoéticas no compartimento intravascular. Portanto, faz-se fundamental a correlação com a situação clínica no momento da coleta da amostra devido ao dinamismo na diferenciação e mobilização das linhagens celulares.

Nas últimas décadas, houve um grande aperfeiçoamento tecnológico nos contadores hematológicos e no desenvolvimento de novas metodologias. Os processos automatizados substituíram, com largas vantagens, os testes manuais. Atualmente, laboratórios com equipamentos de última geração oferecem significativo aumento na qualidade geral do exame devido à alta reprodutibilidade de resultados e aos baixos coeficientes de variação dos parâmetros analisados, além de possuírem melhor controle de qualidade e padronização de critérios para revisão médica dos resultados.

Contudo, apesar de todo o arsenal tecnológico utilizado para realização do hemograma, os contadores automatizados ainda não são capazes de definir e classificar corretamente algumas populações celulares, particularmente as células imaturas da série leucocitária. A adoção de equipamentos de microscopia com análise digital de imagens, acoplados às linhas de contadores hematólogicos e coradores de lâminas, permitiu um enorme avanço nesse processo no que tange à segurança ao paciente.

A utilização de tais equipamentos representa inúmeras vantagens, como manter a rastreabilidade e segurança das amostras pelo uso do sistema de códigos de barras, auxiliar na padronização da avaliação morfológica entre hematologistas, diminuindo a subjetividade na análise, diminuir o tempo para liberação de resultados, mesmo em casos complexos, e possibilitar o acesso remoto do hematologista às imagens, permitindo com dinamismo a opinião de um segundo especialista.

NOVAS FERRAMENTAS PARA UM EXAME TRADICIONAL

Série Vermelha

Os parâmetros que medem volume das hemácias (VCM) e conteúdo de hemoglobina (CHCM) são os mais comumente utilizados na classificação inicial das anemias. Já o RDW (Red Cell Distribution Width) é uma medida quantitativa da anisocitose, podendo ser utilizado como um dado para diferenciação entre anemias ferroprivas e traço talassêmico.

Como exame complementar ao hemograma, a contagem de reticulócitos oferece um marcador de atividade de resposta medular, diferenciando anemias regenerativas das hiporregenerativas. Atualmente, um novo parâmetro que mede a porcentagem de reticulócitos imaturos (IRF%) traz a possibilidade de se obter mais informações sobre a resposta medular, auxiliando tanto o diagnóstico laboratorial das anemias quanto o acompanha- mento após procedimentos terapêuticos, como Transplante de Medula Óssea ou Quimioterapia.

Outro parâmetro bastante promissor é o que mensura a concentração de hemoglobina dos reticulócitos (RETHe). É um marcador precoce de deficiência de ferro e tem sido aplicado para monitoramento de pacientes renais crônicos, particularmente aqueles em uso de eritropoietina.

Séria Branca ou Leucocitária

Utilizada em geral para avaliar processos inflamatórios e infecciosos, os dados do leucograma podem ser fundamentais também para a detecção precoce de doenças hematológicas, algumas delas pouco sintomáticas, como as doenças linfoproliferativas crônicas.

Para adequada interpretação do exame é necessário lembrar dos processos envolvidos na diferenciação e mobilização dos leucócitos. Um processo fisiológico ou patológico pode provocar uma resposta medular e modificar a composição do sangue periférico. Porém, componentes celulares, como neutrófilos segmentados e bastonetes, possuem um armazenamento nas margens do sistema endotelial, chamado de “sistema marginado” ou pool marginal”, e sua mobilização afeta a composição do hemograma.

Essa mobilização ocorre em resposta a diversos estímulos, incluindo adrenalina e cortisol, endógeno ou exógeno. Assim, o estado de estresse dos pacientes, a realização de exercícios físicos, o uso de medicação, entre outros, podem alterar significativamente o exame. A mobilização de células para o espaço tecidual e a vida média das células em diferentes estados fisiopatológicos devem ser levadas em conta na interpretação, particularmente em exames seriados.

A automatização tecnológica trouxe avanços significativos para as contagens celulares. Tanto a contagem global quanto a diferencial de neutrófilos são muito mais exatas e precisas quando realizadas em equipamentos automatizados. A contagem manual realizada pelo hematologista é bem menos reprodutível e suas variações podem representar um fator interferente particularmente importante na avaliação comparativa de hemogramas seriados.

A automação possui algumas limitações que implicam a necessidade de avaliação morfológica direta pelo hematologista. Os laboratórios devem possuir critérios claros para revisão desses casos. Para série branca, os equipamentos alertam para situações em que a população celular não foi adequadamente classificada. Em geral, são casos de células jovens ou imaturas, em uma situação que ficou denominada como “desvio à esquerda”: são Metamielócitos, Mielócitos, Promielócitos e Blastos.

A presença dessas células, associadas a outros parâmetros do hemograma, representa uma excelente orientação tanto em casos reacionais quanto em doenças proliferativas hematológicas. Alguns equipamentos possuem parâmetro quantitativo de granulócitos imaturos (IG) que pode ser relacionado à presença ou ausência de desvio à esquerda, mesmo que não avalie seu escalonamento.

A revisão morfológica com auxílio de sistema de captação e análise digital de imagens é um avanço nesse passo da realização do hemograma. Além da série leucocitária, o sistema também permite a avaliação morfológica da série vermelha e das plaquetas.

As Plaquetas

A contagem de plaquetas significava um problema nos primórdios da automatização em hematologia. Atualmente, os equipamentos de última geração têm excelente performance nessa contagem, sendo muito superiores em exatidão e precisão se comparados às contagens manuais, o que ocorre mesmo em plaquetopenias severas e na presença de macroplaquetas.

Alguns parâmetros recentes como VPM (Volume Plaquetário Médio) e PDW (Platelets Distribution Width), de forma semelhante aos índices VCM e RDW, podem ser aferidos pelos contadores. Devem, porém, ser interpretados com cautela, principalmente devido à possibilidade de modificação do tamanho das plaquetas in vitro.

Em paquetopenias inferiores a 20000/mm3, o coeficiente de variação das contagens automatizadas pode ser superior a 20%, ainda assim bastante inferior ao CV das contagens manuais. A marcação com CD61 disponível em equipamento específico pode trazer resultados mais exatos para decisão transfusional nesses casos. Alguns equipamentos fornecem uma IPF (Quantificação de Plaquetas Imaturas) que, de forma semelhante aos reticulócitos na série vermelha, podem indicar níveis de resposta medular e direcionar o raciocínio diagnóstico nas plaquetopenias.

A presença de grumos plaquetários na amostra é uma situação in vitro que ocorre em cerca de 0,01% das amostras enviadas para hemograma. Esses casos devem ser detectados pelo laboratório, prevenindo a ocorrência de laudos de falsas plaquetopenias. Em tais situações, tanto métodos automatizados quanto os manuais têm dificuldade na contagem acurada das plaquetas, já que essas se encontram agrupadas. A soluçãé a coleta de nova amostra com anticoagulante alternativo, o que resolve a maioria dos casos. Eventualmente, a análise da lâmina com esses agupados plaquetá- rios permite ao hematologista estimar se o número de plaquetas está dentro do normal. Esse tipo de informação, contudo, deve ser interpretado com muita cautela porque as plaquetopenias leves po- dem não ser detectadas.

Dessa forma, o hemograma é um exame muito acessível e, apesar de inespecífico, a interpretação correta de seus dados pode ser uma ótima ferramenta de orientação diagnóstica e terapêutica. O avanço tecnológico, além da melhoria da qualidade analítica, permitiu a introdução de novos parâ- metros que podem ser relevantes na prática clínica se forem adequadamente utilizados. A consulta ao médico especialista do laboratório pode esclarecer dúvidas e auxiliar o direcionamento diagnóstico.

REFERÊNCIAS

1. Rosenfeld, R. Fundamentos do Hemograma do laboratório à clínica. Guanabara Koogan; 2007.
2. Grotto, H.Z.W. O Hemograma: importância para interpretação da biópsia. Rev.Bras.Hematol.Hemoter. 2009; 31(3):178-182.
3. Fernandes, B. Hamagushi, Y. Automated Enumeration of Immature Granulocytes. Am J Pathol. 2007 128:454-463.
4. Fujimoto, H. Sakata, T. Flow Cytometric Method for Enumeration and Classification of Reative Immature Granunocyte Population Cytometry 2000

42:371-378.
5. Briggs, C. Kunka, S. Assessment of an immature patelet fraction (IPF) in peripheral thrombocytopenia 2004 British J Haematol 126:93-99.
6. Lothar, T. Francks, S. Reticulocyte hemoglobin measurement – comparison of two methods in the diagnosis of iron-restricted erythropoiesis. Clin

Chem Lab Med 2005 43(11) 1193-1202.
7. H. Ceelie, R B Dinkelaar, W van Gelder Examination of peripheral blood films using automated microscopy; evaluation of Diffmaster Octavia and

Cellavision DM96 J Clin Pathol 2006;60:72-79. doi: 10.1136/jcp.2005.035402.
8. C. BRIGGS1 I. LONGAIR1 Can automated blood film analysis replace the manual differential? An evaluation of the CellaVision DM96 automated

image analysis system Journal of Laboratory Hematology (31) 48–60, 2009.
9. K. H. HONG1 M. J. KIM2 Platelet count evaluation using three automated haematology analysers compared with the immunoplatelet reference

method, and estimation of possible inadequate platelet transfusion International Journal of Laboratory Hematology (31) 298–306, 2009.

* Dra. Adah Conti

Médica Patologista Clínica. Residência Médica em Clínica Médica e Patologia Clínica pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo). Pós-Graduação em Patologia Clínica nas áreas de Biologia Molecular e Hematologia na USP (Universidade de São Paulo). Especialista em Patologia Clínica (título concedido pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial).

Medicina Individualizada: a genética das doenças cardiovasculares hereditárias

Medicina Individualizada: a genética das doenças cardiovasculares hereditárias

Diagnóstico, prognóstico e aconselhamento familiar nos portadores de cardiomiopatias e canalopatias herdadas

Por Dra. Ilana Zalcberg*

Com o termo Doenças Cardiovasculares Hereditárias (DCH) nos referimos a um grupo de entidades que são caracterizadas por apresentação familiar causadas por raras variantes genéticas (mutações) com penetrância alta ou relativamente alta, sendo penetrância a proporção de indivíduos carregando uma variante genética que também expressam um fenótipo relacionado a uma doença específica.

Esse é um grupo de doenças cardíacas heterogêneas, que inclui as cardiomiopatias (doenças do músculo do miocárdio), canalopatias (doenças cardíacas pela deficiência de proteínas de “canal, responsáveis por transmitir os impulsos elétricos do coração) e outras síndromes com envolvimento vascular caracterizadas pelo componente genético e de apresentação familiar.

As DCH apresentam uma série de características comuns que fazem com que o diagnóstico genético seja útil não só para individualizar o diagnóstico, mas também para personalizar o prognóstico e tratamento dessas doenças: são caracterizadas por sua componente genética e de apresentação familiar; sua apresentação clínica é altamente variável, em muitos casos com fenótipos sobrepostos, sendo difícil prever a progressão da doença; centenas de mutações diferentes têm sido relatadas em associação com estas doenças.

As DCH são uma das principais causas de morte súbita em jovens e atletas, mas também são uma causa significativa entre os pacientes mais velhos. A morte súbita pode ser a primeira manifestação dessas doenças – diante de um caso assim, os médicos consideram sempre o diagnóstico de cardiomiopatias e canalopatias. Tal situação indica a necessidade de um diagnóstico precoce, que permite a realização de uma avaliação cuidadosa do risco de morte súbita e a tomada de medidas preventivas eficazes.

As DCH são geralmente doenças monogênicas (uma variante genética única é responsável pela doença, em geral com herança mendeliana), mesmo quando uma proporção substancial de pacientes afetados carrega mais de uma variante patogênica. Nós incluímos nesse grupo as cardiomiopatias (Hipertrófica, di- latada, restritiva, arritmogénica e não compactada), canalopatias (QT longo e curto, Síndrome de Brugada, taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica, distúrbios de condução herdados), assim como as doenças hereditárias afetando a aorta (Marfan, Loeys-Dietz, aneurisma familiar da aorta torácica).

Estas são condições clinicamente heterogêneas. As manifestações morfológicas e funcionais (como a presença de obstrução ou o grau e distribuição da hipertrofia na cardiomiopatia hipertrófica), associadas com manifestações extracardíacas (como miopatia esquelética em algumas cardiomiopatias ou perda de audição na SQTL), alterações eletrocardiográficas, idade de início, prognóstico e muitas outras características são altamente variáveis em cada uma das DCH. Essa heterogeneidade clínica é em parte explicada pela heterogeneidade genética subjacente, com vários genes diferentes e mutações associadas com uma doença e também múltiplas doenças associadas com o mesmo gene.

O DIAGNÓSTICO GENÉTICO

A genética tem sido o “padrão ouro” para a reavaliação dos critérios de diagnóstico para os parentes em cardiomiopatias hipertróficas e arritmogênicas. Entretanto, os testes genéticos não devem ser interpretados de forma isolada – devem ser submetidos à avaliação de um cardiologista em conjunto com um geneticista.

Devido ao conhecimento crescente da variabilidade genética nos genomas humanos, e à necessidade de diferenciar polimorfismos genéticos neutros das mutações associadas patogenicamente às doenças, é extremamente importante que qualquer variação descrita num paciente preencha os critérios para ser considerada uma mutação.

Uma mutação patogênica associada a uma CMH é uma alteração na sequência de DNA que nãé observada ou é extremamente rara na população saudável e altera ou é preditiva em relação a uma alteração da estrutura e/ou função da proteína por ela codificada, ou foi associada conclusivamente à doença em uma família. Para isso, é importante que os resultados obtidos do sequenciamento de genes de um paciente sejam comparados com um banco de dados das mutações descritas antes de serem associados definitivamente ao fenótipo.

 

Os genes comumente associados à CMH e canalopatias, incluindo somente aqueles responsáveis por pelo menos 5% da frequência para uma determinada doença, são vistos na tabela 1. A frequência de detecção de mutações pelos testes genéticos é diferente de acordo com a doença, variando nas canalopatias a partir de 20% para a síndrome de QT curto e 75% para a síndrome do QT longo. Nas cardiomiopatias, as frequências variam entre 20% para a cardiomiopatia restritiva e 60% para cardiomiopatia hipertrófica familiar.

CARDIOGENÉTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS

A interpretação inadequada dos resultados dos estudos genéticos pode levar a decisões clínicas inapropriadas, assim como à utilização dos estudos genéticos em pacientes nos quais esses estudos não são indicados, gerando assim custos desnecessários. Para isso, o papel de normatização e orientação das sociedades científicas e grupos de estudo têm sido de fundamental importância. Entretanto, conhecimento e treinamento são uma necessidade para executar adequadamente as indicações e obter as interpretações dos testes genéticos.

A tabela 2 apresenta as recomendações de consenso da Heart Rhythm Society (HRS) e da European Heart Rhythm Association (EHRA) para uso dos estudos genéticos em canalopatias e miocardiopatias. Nesse consenso, a recomendação de Classe I (“Recomendado”) foi aplicada para o teste genético em casos-índice com uma suspeita clínica forte para a presença de uma canalopatia ou uma cardiomiopatia, quando o valor preditivo positivo de um teste genético é elevado (probabilidade de resultado positivo >40% e relação sinal/ ruído >10), e/ou quando o resultado do teste genético fornece informações tanto para diagnóstico ou prognóstico, como pode influenciar as escolhas terapêuticas. Uma recomendação de Classe IIa (“Pode ser útil) ou Classe IIb (“Pode ser considerado”) foi aplicada quando alguma das condições anteriormente citadas não estava presente. A recomendação de Classe III (“Não recomendado”) foi aplicada nos casos em que o resultado do teste genético não forneceu nenhum benefício adicional ou poderia ser prejudicial na avaliação diagnóstica dos pacientes com possível doença cardíaca hereditária.

A triagem dos membros da família para a mutação identificada no probando foi recomendada como Classe I quando o teste genético leva à adoção de terapia / medidas cautelares / adaptações de estilo de vida. Inversamente, os autores atribuíram uma recomendação Classe IIa quando os resultados dos testes genéticos não estão associados com a utilização de medidas terapêuticas ou de proteção, mas os resultados podem ser úteis para o aconselhamento reprodutivo ou casos em que o teste genético é solicitado pelo paciente que quer saber o seu estado de mutação. Ao usar a orientação desse documento, é importante lembrar que não há uma regra absoluta que rege as diversas situações clínicas. Afinal, o julgamento sobre um determinado paciente deve ser feito pelo médico e pelo paciente à luz de todas as circunstâncias relevantes. Os autores do Consenso alcançaram um acordo igual ou superior a 84% em todas as recomendações; a maioria das recomendações teve concordância de 94% ou superior.

Para sua implementação correta na clínica, os testes genéticos devem ser avaliados na contribuição ou benefício trazido por estes para a tríade Diagnóstico – Prognóstico – Terapêutica, como apresentado no quadro 1

CARDIOMIOPATIA HIPERTRÓFICA (CMH): GENÉTICA COMO FATOR ESSENCIAL NO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

A CMH é uma doença comum (afeta uma em cada 500 pessoas), caracterizada por hipertrofia cardíaca sem causa conhecida, alterações dos miócitos e fibrose. Muitos pacientes são assintomáticos e são diagnosticados na vida adulta durante check-ups rotineiros. Entretanto, a CMH pode causar invalidez e ser potencialmente letal devido às suas manifestações de dispneia, angina ao exercício, palpitações, síncopes e morte súbita.

De fato, a CMH é a causa mais comum de morte súbita em adultos jovens e atletas. A morte súbita pode ser a primeira manifestação da doença, por isso o diagnóstico precoce e uma avaliação de risco adequada são essenciais. O modo de herança é autossômica dominante e, portanto, a prole de um afetado tem uma chance de 50% de herdar a mutação causal. Subjacente à doença, foi descrito um grande número de mutações em genes diferentes; esta ampla variedade de causas genéticas corresponde à grande variabilidade na apresentação clínica, expressão morfológica, evolução e fatores prognósticos da doença. Esta é uma característica que a CMH compartilha com outras cardiomiopatias herdadas. A penetrância (ou seja, a proporção de indivíduos com mutação que têm doença clinicamente detectável) aumenta com a idade, mas permanece incompleta.

A CMH foi denominada “doença do sarcômero” quando os primeiros três genes identificados na doença mostraram codificar componentes do aparelho contráctil. Mutações em pelo menos dez genes de proteínas de sarcômero têm sido associadas causalmente à CMH. Os genes MYH7, codificando a cadeia pesada beta-miosina, e MYBPC3, codificando Proteína C de ligaçãà miosina cardíaca, são os mais comumente afetados por mutações patogênicas, cada um representando 25-35% de todos os casos, com cada um dos genes restantes contribuindo 1-5% (tabela 1). A detecção de mutações e o tipo destas são de extrema importância para o diagnóstico da doença. A CMH isolada é usualmente causada por mutações nos genes sarcoméricos e a ecocardiografia pode ser usada para guiar os testes genéticos. Dos dois subtipos morfológicos de MCH mais comuns, a MCH com curvatura septal reversa tem uma chance de 80% de um teste genético positivo, enquanto que apenas uma minoria de pacientes com MCH com septo ventricular sigmoidal terão um teste positivo.

Embora um teste negativo não possa afastar o diagnóstico de MCH, um teste positivo, além de firmar esse diagnóstico, tem um papel importante no diferencial entre CMH e cardiomegalia adaptativa ao exercício (coração de atleta”), assim como com feno-cópias (Fabry, Noonan, LEOPARD, etc.) para as quais há abordagens clínico-terapêuticas diferenciadas.

Nestes casos, mutações em genes não sarcoméricos estão associadas às formas não isoladas da doença (sindrômicas, metabólicas, neuromusculares). Estas incluem a ocorrência da CMH no contexto clínico de uma síndrome genética (p.e. Síndrome de Noonan ou Costello); transtornos metabólicos do glicogênio (doença lisossomal de Pompe, Fa- bry, Danon, e na síndrome CMH/Wolff-Parkinson-White, HCM/WPW); defeitos nas cadeias respiratórias mitocondriais e doenças neuromusculares e neurodegenerativas como Duchenne/Becker e ataxia de Friedreich. A chance de identificar esses transtornos é maior na infância que na vida adulta e a CMH pode ser distinguida dessas doenças por exames clínicos e diagnóstico de DNA.

Além disso, a quimioprevenção pode ser possível no futuro próximo, em que estratégias clínicas e farmacológicas poderão ser usadas para prevenir ou atrasar o início da hipertrofia naqueles pacientes portadores de mutação, mas ainda sem manifestação clínica. Atualmente, um estudo randomizado está testando um tratamento profilático com diltiazem em pacientes com CMH com genótipo positivo / hipertrofia negativa.

SÍNDROME DO QT LONGO: O ESTUDO GENÉTICO NA TRÍADE DIAGNÓSTICO- PROGNÓSTICO-TERAPÊUTICA

Com uma prevalência de cerca de uma em 2.500 pessoas, as SQTLs compreendem um grupo distinto de canalopatias cardíacas, caracterizadas por uma repolarização cardíaca retardada que se manifesta como uma prolongação do QT no contexto de um coração de estrutura normal. Os pacientes têm um risco aumentado de síncopes, crises convulsivas e morte súbita, usualmente precipitada por estímulos físicos, emocionais ou auditivos, ou durante o período pós-parto. Como todas as cardiopatias apresentadas nesta revisão, as SQTLs são caracterizadas por penetrância incompleta e expressividade variável. As SQTLs são geneticamente heterogêneas e a forma mais comum de heranças é autossômica dominante.

Centenas de mutações têm sido identificadas nos 12 genes associados às SQTL, com aproximadamente 75% dos casos associados a mutações em 3 genes críticos que orquestram o potencial de ação dos miócitos ventriculares: KCNQ1 (LQT1), KCNH2 (LQT2) e SCN5A (LQT3) (tabela 1). O restante dos casos apresenta mutações em genes que codificam proteínas que participam em outros canais cardíacos. Estes genes, associados com SQTL4 a 12 contribuem com 5% das mutações.

Mais do que qualquer DCH, a associação Fenótipo-Genótipo pode orientar o estudo genético nas SQTLs. Por exemplo, eventos cardíacos induzidos pela natação ou outros exercícios indicam fortemente a presença de mutações no gene KCNQ1, enquanto que a indução via estímulos auditivos, assim como os eventos pós-parto, sugerem KCNH2 (LQT2), e eventos durante o sono são associados com SCN5A (LQT3). Em contraste, desmaios durante o exercício no contexto de um intervalo QT normal corrigido (QTc < 460 ms) deveria tirar a QTL1 do foco diagnóstico e sugerir TVPC.

Os estudos genéticos não somente têm implicações diagnósticas significativas, mas também têm impacto prognóstico e terapêutico. Por exemplo, a base genética subjacente influência fortemente a resposta ao tratamento padrão das SQTLs (bloqueadores beta), uma vez que a ação de b-bloqueadores é extremamente eficiente nos pacientes com SQTL1, mas não tanto nos pacientes com SQTL2 ou 3. Em contraste, alvejar o canal de sódio QTL3 patológico com agentes como mexiletina, flecainida, ranolazina ou propranolol pode representar uma opção terapêutica gene-dirigida na SQTL3.

Além disso, a estratificação de risco intrageno-típica (ou seja, baseada nas variações genéticas existentes nas mutações causadoras de um mesmo genótipo) tem sido útil nas SQTL 1 e SQTL2; nesses casos devem ser considerados o tipo e a localização da mutação no gene e na função celular. Por exemplo, pacientes com mutações “missense” (mudança de aminoácido) e localizadas no domínio transmembrana do gene LQT1 têm um risco aumentado em 2 vezes de um evento cardíaco quando comparados a pacientes com SQTL1 e mutações no domínio C-terminal do gene LQT1.

Pacientes com SQTL1 portadores de mutações que resultam em uma perda de função maior do canal de sódio (proteínas truncadas) têm um risco 2 vezes aumentado de evento cardíaco quando comparados a pacientes com a mutação no LQT1 que leva a um dano menor à proteína do canal.

Já pacientes com SQTL2 secundários a mutações na região gênica que codifica o poro do canal de potássio têm um QTc mais longo, manifestações clínicas mais severas e uma frequência maior de arritmias em idades mais precoces que os pacientes com SQTL2 e uma mutação fora da região do poro.

Em 2012, já é possível dizer que os testes genéticos para SQTL satisfazem amplamente a tríade, em termos de impacto diagnóstico (caso índice e familiares), prognóstico (no nível de genes e dentro de genótipos específicos) e terapêutico (abordagem diferencial de pacientes com SQTLs de acordo com a confirmação genotípica). Do ponto de vista da abordagem clínica e das possibilidades de estratificação de risco adicional, qualquer paciente com suspeita de SQTL deveria ter a opção de uma avaliação genética, mesmo nos casos em que o fenótipo clínico e eletrocardiográfico não deixem dúvidas quanto ao diagnóstico.

DISPLASIA/MIOCARDIOPATIA ARRITMOGÊNICA VENTRICULAR DIREITA (D/MAVD): A GENÉTICA COMO CRITÉRIO MAIOR DE DIAGNÓSTICO

D/MAVD é uma doença genética caracterizada por anormalidades estruturais e funcionais do ventrículo direito principalmente, com substituição progressiva do miocárdio por tecido adiposo e fibroso, decorrente de alterações do processo apoptótico. Afeta seis em cada 10 mil indivíduos. Suas manifestações clínicas podem variar entre a falta de sintomas e a presença de arritmias ventriculares e insuficiência cardíaca direita ou biventricular. Além disso, é uma das principais causas de morte súbita em adultos jovens, especialmente nos atletas. Esta é uma doença em que a genética deposita um papel muito importante, sendo que 50% dos casos pode acometer diferentes membros de uma família (agregação familiar).

O diagnóstico de D/MAVD se faz de acordo com critérios (maiores e menores) recentemente modificados em 2010 (publicados simultaneamente em Circulation e o European Heart Journal). Mutações nos genes desmossômicos têm sido reportadas em aproximadamente 50% dos pacientes diagnosticados com esta doença. Como consequência, os novos critérios diagnósticos incluem a presença de uma mutação patogênica como um critério diagnóstico maior.

É importante ressaltar que em até 7% dos casos com D/MAVD, duas ou três mutações são identificadas no mesmo paciente. Estes casos apresentam fenótipos mais severos (morte súbita, ataque cardíaco precoce, etc.).

A presença de uma mutação em um gene desmossômico não somente auxilia com o diagnóstico do paciente índice, mas também permite o rastreamento rápido dos membros da família. D/MAVD é herdada de uma maneira autossômica dominante, ou seja, se um indivíduo está afetado, seus filhos têm 50% de probabilidade de terem herdado o gene mutado e serem também afetados. Os familiares nos quais uma mutação causal é detectada devem ser monitorados, uma vez que a doença é progressiva e os sintomas podem aparecer ao longo dos anos. Por outro lado, a não detecção da mutação em um familiar permite um diagnóstico de certeza da condição de não portador e o familiar pode ser liberado da monitoração.

O DESAFIO DO DIAGNÓSTICO GENÉTICO NA MIOCARDIOPATIA DILATADA

A Miocardiopatia Dilatada (MCD) é caracterizada pela presença de dilatação e disfunção sistólica ventricular esquerda em ausência de condições de sobrecarga (hipertensão, doença valvular) ou alteração coronariana suficiente para causar deficit global da função sistólica. Afeta aproximadamente um em cada três mil indivíduos e representa a terceira causa mais comum de falha cardíaca, sendo uma causa importante de transplante cardíaco. Embora diferentes injúrias ao miocárdio possam causar um fenótipo de cardiomiopatia dilatada, o termo MCD aqui empregado identifica a doença de causa genética. Até 50% dos casos de MCD têm apresentação familiar e causa genética.

A MCD é resultante de mutações raras, principalmente missense, ou variantes de inserção/deleção. Até o presente, estas mutações foram encontradas em cerca de 30 genes diferentes, relacionados com proteínas do citoesqueleto, miofilamentos do sarcômero, uniões intercelulares, envelope nuclear, canais iônicos e proteínas mitocondriais. No entanto, nenhuma destas mutações em genes específicos representa mais de 5% da DCM familiar. O modo predominante de herança é autossômico dominante, embora possam existir, menos frequentemente, formas recessivas ligadas ao cromossomo X e de herança mitocondrial.

A sensibilidade dos testes genéticos é estimada em 15-25%. Isto varia em relação ao número de genes que são testados e às características fenotípicas da pessoa testada. Para aqueles indivíduos com doença de condução, creatina quinase elevada e familiares afetados, os testes genéticos parecem ser mais produtivos. De qualquer maneira, essa doença exige o trabalho multidisciplinar do clínico em conjunto com o laboratório para viabilizar a avaliação genética face à grande heterogeneidade clínica e multiplicidade de alvos moleculares possíveis. A figura 1, na próxima página, mostra uma proposta de abordagem molecular das MCDs de acordo com características clínicas, tendo em conta principalmente os defeitos de condução associados.

A PERSPECTIVA FAMILIAR É ESSENCIAL NA AVALIAÇÃO CLÍNICA

Nestas doenças, a utilidade clínica do foco no paciente individual é superada pela informação fornecida pela visão de que o indivíduo com suspeita de DCH faz parte de uma família. A informação familiar é de extrema importância para orientar os algoritmos diagnósticos do paciente, e essa mesma família será beneficiada posteriormente com a possibilidade de triagem, aconselhamento genético e monitoração clínica para prevenir complicações sérias. O diagnóstico de um paciente index ou índice deve acionar a triagem clínica dos parentes. O principal objetivo deste rastreamento é identificar outros membros da família em risco para complicações relacionadas à doença, incluindo a morte súbita. Mas o estudo da família também é útil para realizar o diagnóstico correto e a estratificação de risco do paciente índice.

Atualização no diagnóstico do Diabetes mellitus

Atualização no diagnóstico do Diabetes mellitus

Novas perspectivas A resistência insulínica e o diabetes monogênico Mody

Dra. Paula Bruna Araujo e Dra. Yolanda Schrank*

Mais de 400 milhões de pessoas em todo o mundo apresentam Diabetes Mellitus (DM). Um levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizado em 2012, mostrou que o DM foi a principal causa direta de morte de 1,5 milhões de indivíduos e que a glicemia elevada contribuiu para a mortalidade em 2,2 milhões de pessoas.

Para o futuro, prevê-se que essa doença venha a ser a sétima principal causa de morte no ano de 2030. Apesar de o DM tipo 2 (DM2) ser o mais frequente e ocorrer principalmente em adultos, nas últimas décadas têm-se relatado aumento de DM2 também em crianças e adolescentes; igualmente o diabetes tipo 1 (DM1) tem também ocorrido nessa população, especialmente em crianças mais jovens; ambos têm se tornado um novo problema clínico dentro da prática pediátrica. Medidas que propiciem o diagnóstico precoce do DM em qualquer faixa etária e a caracterização do tipo de DM apresentado pelo indivíduo contribuem para que o médico possa tomar a conduta terapêutica adequada.

Parte 1 – Diabetes e autoimunidade: Da resistência insulínica ao diabetes tipo 1

NOVOS MARCADORES NO DIAGNÓSTICO DO DIABETES TIPO 1 AUTOIMUNE

O diabetes tipo 1 (DM1) consiste em doença crônica caracterizada pela destruição autoimune das células beta-pancreáticas. Os fatores imunogenéticos e ambientais associados ao início e à progressão da doença não estão totalmente esclarecidos.

Os autoanticorpos podem estar presentes anos antes do desenvolvimento da doença clínica, podendo, dessa forma, ser utilizados na identificação de indivíduos com maior risco de diabetes. A progressão da doença, por sua vez, está associada à presença de múltiplos autoanticorpos.

Depois da descrição dos primeiros anticorpos anti-ilhotas pancreáticas (ICAs), foram descritos vários outros autoanticorpos relevantes como anticorpos contra a insulina (IAA), a descarboxilase do ácido glutâmico (GAD), a proteína tirosina-fosfatase IA2 (IA-2) e, mais recentemente, o autoanticorpo transportador do zinco (ZnT8) (quadro 1). Considera-se, atualmente, portanto, cinco os autoanticorpos principais relacionados com o DM1.

ANTICORPO CONTRA O TRANSPORTADOR DO ZINCO (ZNT8)

O Znt8 consiste em proteína produzida pelo gene SCL30A8, localizada na membrana dos grânulos secretores de insulina das células beta. A sua função é transportar o zinco do citoplasma para o interior das vesículas. O zinco é essencial à apropriada maturação e ao armazenamento da insulina.

Os autoanticorpos para o Znt8 representam importante e promissor marcador do DM1, uma vez que mostraram prevalência de 60% a 80% em pacientes recém-diagnosticados com a doença, dos quais 14% a 26% não expressaram nenhum outro autoanticorpo.

Estudo de Kawasaki e col. tem mostrado, ainda, que a prevalência do anticorpo é maior (~58%) em pacientes com início agudo da doença e me- nor (~20%) em pacientes com início mais insidioso. Esse mesmo estudo mostrou prevalência inversa do anti-Znt8 com a idade de início do diabetes, sendo maior (~70%) em pacientes com menos de 10 anos.

Além disso, o anti-Znt8 se mostrou muito útil na previsão de DM1 em parentes de primeiro grau de pacientes com a doença.

Concluímos que incluir a dosagem do anti-Znt8 na avaliação inicial dos pacientes, com possível DM1, oferece um grande diferencial, aumentando a sensibilidade da detecção de autoimunidade para 98%.

A determinação do anti-Znt8 é realizada por enzimaimunoensaio, não sendo necessário jejum para a sua coleta.

DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME DE RESISTÊNCIA INSULÍNICA AUTOIMUNE

A resistência insulínica autoimune consiste em causa rara da resistência insulínica, destacando-se as três causas descritas a seguir:

  • Resistência insulínica secundária à presença de anticorpos anti-insulina, mais comumente descrita antes do advento das insulinas humanas;
  • Síndrome de resistência insulínica do tipo A, na qual o defeito é do receptor de insulina e da cascata de sinalização pós-receptor;
  • Síndrome de resistência insulínica do tipo B, que ocorre pelo desenvolvimento de imunoglobulinas policlonais (IgG) contra o receptor da insulina.

A síndrome de resistência insulínica do TIPO B (SRI-B) consiste em rara desordem de prevalência ainda desconhecida, causada pela presença de autoanticorpos policlonais contra epítopos específicos do receptor de insulina. A desordem é mais frequentemente descrita em mulheres afro-americanas, entre 30 e 50 anos, e apresenta alta mortalidade. A maioria dos pacientes desenvolve a síndrome no contexto de outra doença autoimune, sendo a associação com o lúpus eritematoso sistêmico mais frequentemente descrita. Nessa situação, usualmente o lúpus antecede o aparecimento do anticorpo antirreceptor de insulina. Dentre as demais doenças relacionadas à SRI-B, destacamos: tireoidite de Hashimoto, esclerose progressiva sistêmica, síndrome de Sjögren e trombocitopenia autoimune.

A doença pode cursar com um amplo espectro de anormalidades no metabolismo da glicose, variando de resistência insulínica extrema à hipoglicemia grave. Em estudo interessante com 24 pacientes portadores da síndrome, Arioglu et al observaram que a maioria, cerca de 80% dos pacientes, abriu o quadro com hiperglicemia e os demais apresentaram hipoglicemia como primeira manifestação da doença. Dentre os pacientes incialmente hiperglicêmicos, 15% apresentaram também episódios de hipoglicemia grave.

Os achados mais característicos da síndrome são acantose nigricans e hiperandrogenismo, achados estes comuns às demais síndromes de resistência insulínica. Destaca-se, entretanto, como característica da síndrome, a presença da acantose também em região periocular.

Tipicamente, hiperglicemia refratária e resistên- cia insulínica extrema em paciente portador de doença autoimune são os achados cardinais da SRI-B, mas, como descrito acima, a hipoglicemia também pode estar presente e consiste na principal causa da alta mortalidade da doença.

O diagnóstico laboratorial é realizado por meio da determinação dos anticorpos antirreceptores de insulina. Interessantemente, a doença pode remitir espontaneamente em cerca de um terço dos pacientes. O tratamento não está bem estabelecido, entretanto, recentes avanços terapêuticos, que consistem na combinação de imunomoduladores, têm resultado em significativa melhora na mortalidade e em períodos maiores de remissão.
Em resumo, apesar de ser uma doença rara, em vigência da tríade representada por hiperglicemia de difícil controle, resistência insulínica extrema e doença autoimune, a determinação do anticorpo antirreceptor de insulina é mandatória.

Vale lembrar que a pesquisa do anticorpo também deve fazer parte da rotina de investigação de hipoglicemia, fazendo a SRI-B inclusive diagnóstico diferencial com insulinoma, uma vez que ambas as patologias cursam com aumento da insulina. Enquanto no insulinoma esse aumento é decorrente da maior produção, na SRI-B a presença do anticorpo antirreceptor de insulina impede a sua degradação, resultando em diminuição do clearance da insulina.

AUTOANTICORPOS ANTIRRECEPTORES DE INSULINA

Os autoanticorpos antirreceptores de insulina são policlonais, com predomínio da imunoglobulina da classe G. A concentração de receptores de insulina está inversamente relacionada aos níveis crônicos de insulina aos quais estão expostos.

Estudos in vivo e in vitro têm mostrado que até 75% dos receptores podem ser perdidos na presença de insulina, o que parece ser consequência de uma maior degradação dos receptores. Anticorpos antirreceptores de insulina apresentam efeito insulinomimético em promover down regulation destes receptores, resultando em importante resistência insulínica e grave hiperglicemia. As alterações metabólicas descritas são decorrentes, portanto, tanto do bloqueio da ligação da insulina ao seu receptor como também da modulação do número de receptores.

Além de ação “bloqueadora”, podemos encontrar num mesmo paciente também ação “estimuladora” desses mesmos anticorpos, de forma que esses pacientes podem apresentar tanto hiperglicemia como hipoglicemia grave. Estudos sugerem que em indivíduos com baixos títulos do anticorpo, o efeito estimulador do receptor predominaria, enquanto em pacientes com títulos mais altos, predominaria o efeito bloqueador.

A determinação do anticorpo antirreceptor de insulina é realizada por radioimunoensaio e é recomendado jejum de 4 horas para coleta da amostra de sangue para a análise.

Concluindo, os diversos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na ocorrência do DM1 e do DM2 justificam que um diagnóstico preciso seja realizado, a fim de proporcionar a diretriz terapêutica adequada. O uso clínico dos novos anticorpos – contra o transportador do zinco e contra o receptor de insulina – aliados aos demais exames já utilizados, podem contribuir para o diagnóstico do DM e o seu tratamento.

Parte 2 – Diabetes monogênico: Do diagnóstico clínico à confirmação molecular

O Diabetes mellitus (DM) do tipo Mody (Matu- rity-Onset Diabetes of the Young) refere-se a um grupo heterogêneo de desordens monogênicas com herança autossômica dominante, caracterizadas pela disfunção da célula ß pancreática, comprometendo a secreção de insulina. Caracteriza-se por um DM de intensidade moderada, tipicamente diagnosticado antes dos 25 anos, em geral durante a infância e a adolescência. É frequentemente confundido com DM tipo 1 e DM tipo 2, apresentando uma prevalência estimada de 1% a 2% dentre to- dos os casos de diabetes.

Adistinção do Mody para o DM tipo 1 e o tipo 2 é de grande importância, uma vez que o tratamento otimizado de cada um dos casos é diferente. Além disso, parentes de primeiro grau possuem uma chance de 50% de herdar a mesma mutação, conferindo um risco maior que 95% de desenvolvimento de diabetes ao longo da vida. Assim, o Mody é uma forma não insulino-dependente de diabetes que é definida geneticamente por mutações em diferentes genes, sendo que sua base genética só foi reconhecida na década de 1990.

APRESENTAÇÃO CLÍNICA DO MODY

Pacientes com Mody costumam apresentar as seguintes características:

1. Forte história familiar de diabetes (de qualquer tipo). O diagnóstico de hiperglicemia comumente acontece antes dos 25 anos em um ou mais familiares;

2. Padrão de herança autossômica dominante, com transmissão vertical de diabetes para, pelo menos, três gerações, e fenótipo similar dividi- do pelos membros da família acometidos;

3. Ausência de terapia com insulina por pelo me- nos cinco anos após o diagnóstico de diabetes ou a presença de níveis significativos de peptídeo C, mesmo em um paciente em tratamento com insulina;

4. Níveis de insulina costumam estar em níveis normais, apesar de inapropriadamente baixos para o grau de hiperglicemia, sugerindo defeito primário da função da célula ß, além de ausência de marcadores de autoimunidade contra as células ß;

5. Ausência de estigmas de resistência insulínica. Obesidade e sobrepeso estão raramente associados aos pacientes que possuem diabetes do tipo Mody.

O reconhecimento do Mody pode ser um desafio pela sua baixa prevalência relativa e superposição de características clínicas com os outros tipos de diabetes. O subtipo genético específico de Mody irá determinar a apresentação clínica, o prognóstico e a resposta ao tratamento. Mutações heterozigotas ou deleções parciais ou totais em pelo menos seis genes são a causa da maioria dos casos de Mody, o que permite uma subclassificação dos subtipos de Mody (tabela 1). Mutações dos genes GCK (Mody 2) e HN- F1A (Mody 3) são as causas mais frequentes de Mody em todas as populações estudadas, corresponden- do a aproximadamente 70% de todos os casos.

MODY 2 POR MUTAÇÕES DA ENZIMA GLICOQUINASE

A enzima glicoquinase (GCK) é a enzima de fosforilação da glicose predominante nas células do parênquima hepático e nas células ß das ilhotas pancreáticas, e ambos os tipos celulares agem como um sensor aos níveis de concentração da glicose no sangue. Ela possui relativa baixa afinidade pela glicose e não é inibida por concentrações micromolares (fisiológicas) de glicose-6-fosfato, mas sim por uma proteína regulatória que transduz o efeito da frutose-6-fosfato e da frutose-1-fosfato. Mais de 600 diferentes mutações no GCK estão associadas ao Mody 2.

Estudos de propriedades cinéticas da GCK mutante mostram que há uma redução relativa da atividade enzimática, levando à redução do fluxo glicolítico em células ß pancreáticas. Dessa forma, ocorre um defeito no sensor de glicose, levando a um quadro de hiperglicemia de jejum moderada (100 a 145 mg/dL), que desencadeia a secreção de insulina. A redução do armazenamento de glicogênio hepático e o aumento da gliconeogênese hepática após refeições usuais contribuem para a hiperglicemia pós-prandial nesses pacientes. Além disso, a hemoglobina glicada (HbA1c) pode estar normal e não costuma ultrapassar 8%.

Mody 2 representa 20% a 30% de todos os casos de diabetes monogênico. Apesar de a hiperglicemia poder estar presente desde o nascimento, a maioria dos casos é detectada mais tardiamente durante rastreio incidental de glicose. Evidências de estudos observacionais mostram que esses pacientes não desenvolvem complicações microvasculares relacionadas ao diabetes, portanto, a confirmação de mutação do GCK permitiria a parada da terapia de redução da glicose e denota um prognóstico favorável sem risco de progressão do diabetes.

Durante a gravidez, mulheres com mutação GCK têm 50% de chance de ter um bebê sem mutação GCK, e, nesse caso, existe um risco aumentado de macrossomia e suas consequências obstétricas. Assim, o tratamento da mãe, com insulina, é indicado. Por outro lado, se a mãe carrega um bebê com uma mutação GCK, não é necessário tratamento. O monitoramento ultrassonográfico do tamanho fetal é recomendado para auxiliar na decisão médica de diminuir ou não a glicemia materna com insulina durante a gravidez.

OUTRAS FORMAS DE MODY DEVIDO A MUTAÇÕES EM FATORES DE TRANSCRIÇÃO EXPRESSOS PELAS CÉLULAS ß

A família dos fatores nucleares de hepatócitos (HNF) são fatores de transcrição necessários para o correto funcionamento das células ß pancreáticas. Três sub-tipos de mutação de HNF estão mais comumente associados ao diabetes monogênico: HNF1A, HNF4A e HNF1B, sendo a mutação HNF1A a mais comum. Além disso, mutações nos genes dos fatores de transcrição IPF1 e NeuroD1, também levam à disfunção da célula ß. Pacientes com Mody 3 (HNF1A) e Mody 1 (HNF4A) costumam ser clinicamente indistinguíveis, sendo tipicamente normoglicêmicos durante a infância, mas apresentam um defeito progressivo na secreção de insulina, com o diabetes sendo diagnosticado comumente da segunda à quinta década de vida. A manifestação clínica inicial costuma ser hiperglicemia pós-prandial com normoglicemia de jejum, progredindo para diabetes franco com o passar do tempo.

Mody 1 (HNF4A) também está associado ao peso aumentado ao nascer e à tendência à hipoglicemia neonatal, o que parece refletir a hiperinsulinemia intrauterina (efeito paradoxal, já que após o nascimento poderá ocorrer a redução da secreção da insulina).
Mais de 200 diferentes mutações do HNF1A já foram descritas, enquanto mutações do HNF4A são mais ra- ras. Mody 3 (HNF1A) e Mody 1 (HNF4A) frequentemente apresentam repostas excelentes e duradouras à baixa dose de terapia com sulfonilureias. No entanto, em contraste com Mody 2 (GCK), Mody 3 (HNF1A) é uma forma mais severa de diabetes, comumente evoluindo para dependência de insulina (tabela 2). Pacientes com Mody 3 e Mody 1 apresentam risco de complicações micro e macrovasculares comparável ao do DM tipo 1 e tipo 2, se correlacionando com o controle glicêmico.

Mutações no HNF1 ß são responsáveis pelo início precoce de diabetes, consistente com diagnóstico de Mody em diversas famílias e por doenças graves dos rins, incluindo malformações, que podem aparecer antes da alteração da glicemia. O fenótipo mais comum no Mody 5 (HNF1ß) é a presença de cistos renais e/ou anormalidades histológicas como meganéfrons. A associação de cistos renais com diabetes tem sido reconhecida como uma síndrome clínica chamada RCAD (Renal Cysts and Diabetes Syndrome).

Hnf-1ß desempenha um papel importante no desenvolvimento do rim e na diferenciação dos néfrons e é também um regulador crítico de uma rede transcricional que controla a especificação, o crescimento e a diferenciação do pâncreas embrionário. Outras alterações clínicas também podem ser observadas como malformações do trato urogenital, alteração dos exames de função hepática, atrofia e insuficiência exócrina pancreática, gota e hiperuricemia. Terapia com insulina costuma ser necessária em pacientes com Mody 5 (HNF1ß), de- vido à atrofia pancreática.

Dois outros genes codificantes de fatores de transcrição, IPF1 e NeuroD1, possuem um papel importante no desenvolvimento do pâncreas endócrino, mas representam causas raras de Mody. O IPF1 age como um regulador transcricional maior de genes específicos do pâncreas endócrino em adultos, como o gene da pré-proinsulina, genes GLUT2 e GCK em células ß e gene da somatostatina em células.

Pacientes com Mody 4 (IPF1) possuem fenótipo que varia desde intolerância à glicose até o diabetes não insulino-dependente. Já o fator de transcrição NeuroD1 tem papel importante no desenvolvimento do pâncreas e do sistema nervoso e regula a expressão do gene da insulina por meio da ligação à sua região promotora. Assim, a ligação deficiente da NeuroD1 ou a ligação de um polipeptídeo inativo à região promotora-alvo do gene da insulina nas ilhotas pancreáticas pode levar ao desenvolvimento de diabetes precoce em humanos (Mody 6).

MARCADORES BIOQUÍMICOS QUE AJUDAM NO DIAGNÓSTICO DO DIABETES MONOGÊNICO

O peptídeo C, um remanescente da clivagem da proinsulina, é secretado pela célula ß em concentrações equivalentes à liberação de insulina, servindo como marcador de produção endógena de insulina. Dessa forma, sua medida é particularmente útil na diferenciação de DM tipo 1 do diabetes monogênico, já que usualmente espera-se níveis indetectáveis de peptídeo C após cinco anos de duração de DM tipo 1. Os autoanticorpos contra as células ß também podem ser usados para diferenciar o DM tipo 1 do diabetes monogênico, já que 98% dos pacientes com diagnóstico recente de DM tipo 1 irão apresentar, pelo menos, um dos tipos de autoanticorpos detectável (anti-GAD, IA-2, IAA, ZnT8A), enquanto a prevalência desses anticorpos em pacientes com HNF1A, GCK ou HNF4A é de apenas 1% (comparável a casos controle).

A dosagem de proteína C reativa (PCR) pode ser particularmente útil na diferenciação do Mody 3 (HNF1A) para as outras formas de diabetes, uma vez que o Hnf-1A se liga na região promotora do gene codificante da PCR. Consequentemente, níveis marcadamente reduzidos de PCR são vistos no diabetes monogênico causado por mutação no HNF1A, comparado com outras formas de diabetes.

Níveis normais ou elevados de colesterol HDL indicam que a resistência insulínica não é um componente importante da doença, tornando o diagnóstico de DM tipo 2 menos provável (caracteristicamente associado a níveis reduzidos de HDL). Assim, níveis de HDL acima de 43 mg/dL apresentam um moderado poder discriminatório entre Mody 3 (HN- F1A) e pacientes com DM tipo 2.

DIAGNÓSTICO MOLECULAR DO DIABETES MONOGÊNICO

O teste diagnóstico atualmente utilizado para Mody é o sequenciamento genético pelo método de Sanger, considerado o padrão ouro para a detecção de mutações nas regiões codificantes dos genes envolvidos. A dosagem dos genes por kits comerciais de MLPA (Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification) é necessária para a identificação de deleção parcial ou total de um gene, responsável por 1% a 3% das mutações. A testagem genética é normalmente restrita a um subgrupo de genes, de acordo com o fenótipo do paciente (quadro 1).

CONCLUSÃO

A identificação de pacientes com Mody continua sendo um desafio na prática clínica, apesar da disponibilidade de testes genéticos moleculares específicos. Por ser uma causa rara de diabetes, os médicos precisam estar cientes dessa etiologia e não hesitar em questionar um diagnóstico prévio de outro tipo de diabetes se o fenótipo for sugestivo de Mody. Assim, a confirmação do diabetes monogênico é importante, já que possui etiologias moleculares distintas, explicando uma parte substancial da heterogeneidade clínica do Mody, com grandes diferenças no curso clínico da doença e nas estratégias de tratamento a longo prazo.

REFERÊNCIAS

www.dasa.com.br/referencias

*Dra. Paula Bruna Araujo

Médica endocrinologista da DASA; Mestre em medicina (área de concentração

em endocrinologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Clinical Fellowship em endocrinologia oncológica pela University of Toronto.

*Dra. Yolanda Schrank

Médica endocrinologista do corpo clínico da DASA-RJ; Médica endocrinologista do corpo clínico do HFB; Título de especialista em endocrinologia e metabologia pela SBEM/AMB; Mestre em endocrinologia pela PUC-RJ.

1,5 anidroglucitol, um novo biomarcador para a avaliação rápida das variações glicêmicas

O laboratório no controle glicêmico do paciente diabético: hemoglobina glicada, frutosamina e 1,5 AG

Dra. Rosita Fontes e Dra. Suemi Marui*

O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica cuja prevalência foi estimada em 9% pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2014, e também responsável por mais de 1,5 milhão de mortes no mundo.

O bom controle glicêmico está inversamente relacionado ao desenvolvimento e à velocidade de progressão das complicações associadas ao DM, macro e microvasculares, especialmente aterosclerose, Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e Acidente Vascular Encefálico (AVE), bem como retinopatia, nefropatia e neuropatia diabética. A monitoração do controle glicêmico pode ser feita classicamente com a automonitorização e a mensuração da hemo- globina glicada (HbA1c). Entretanto, existem algumas limitações na avaliação da HbA1c que o médico assistente deve ter conhecimento. Para ultrapassar essas limitações, o controle glicêmico pode ser feito com a frutosamina e por meio do novo biomarcador 1,5 anidroglucitol.

HEMOGLOBINA GLICADA (HBA1C)

A partir de 2010, a HbA1c passou a ser usada também no diagnóstico de diabetes e pré-diabetes, sendo mais fácil de realização do que o Teste de Tolerância à Glicose Oral (TTGo) e não necessitando de jejum para a sua realização.

Outra vantagem da sua utilização também é a pouca variação intraindividual e poder ser coletado em qualquer hora do dia. No processo de glicação da hemoglobina, a glicose atravessa a membrana celular da hemácia e se liga à hemoglobina em uma reação não enzimática irreversível, proporcionalmente a concentração de glicose no sangue. Cerca de 1% das hemácias são destruídas e formadas diariamente. Portanto, a quantidade de alterações que a hemoglobina sofre é dinâmica e é proporcional à concentração de glicose durante a vida média da hemácia, ou seja, cerca de 120 dias. Por causa dessa ligação, a vida média da hemácia e o tipo de hemoglobina influenciam a concentração da HbA1c.

A exigência de controle de qualidade pelo NGSP (National Glycohemoglobin Standardization Program) fez com que os ensaios da HbA1c se tornassem precisos e exatos. A glicose média estimada dada pela concentração de HbA1c obrigatoriamente deve acompanhar o laudo do exame. Com isso, o paciente e o médico assistente podem avaliar e comparar com a monitorização da glicemia.

Quando há discrepância entre a média estimada de glicemia dada pela HbA1c e a feita pelo paciente, algumas situações devem ser lembradas (tabela 1).

O paciente pode estar se automonitorizando quando não há a hiperglicemia, geralmente no jejum e não após as refeições, causando HbA1c elevada com o controle normal. Ou a média da glicemia estimada pela HbA1c está muito abaixo da monitorização do paciente, pois o paciente não fez o controle nos episódios de hipoglicemia ou de madrugada. Nestes casos, o médico assistente pode reorientar os horários em que os controles glicêmicos devem ser feitos.

O valor da HbA1c pode estar falsamente alto, quando a vida média da hemácia fica prolongada. Isso ocorre na presença de anemia, tanto ferropriva quanto por deficiência de ácido fólico e vitamina B12.

Com o mesmo racional, o valor da HbA1c pode estar falsamente baixo, quando a vida média da hemácia for menor. Isso ocorre na presença de hemólise, como em pacientes em diálise, que recebem eritropoietina ou estão em tratamento da anemia.

Na presença de hemoglobinopatia, tanto heterozigoto quanto homozigoto, a concentração de HbA1c pode sofrer interferência, dependendo do método, apresentando valores superiores ou inferiores ao valor real. Geralmente se suspeita quando o resultado da HbA1c for < 3% ou > 15% ou quando há muita discrepância dos valores na mudança de metodologia do laboratório. Muitos métodos não sofrem interferência na presença de hemoglobinopatia, mas devemos lembrar que, mesmo assim, os pacientes portadores podem apresentar hemólise, diminuindo a vida média da hemoglobina ou receber transfusão sanguínea, confundindo o controle glicêmico.

Paciente em uremia pode apresentar uma falsa elevação da HbA1c por interferência analítica pela formação da hemoglobina carbamilada.

O uso de fenobarbital proporciona maior ligação da glicose à hemoglobina, interferindo na análise.

Alguns estudos associam valores mais altos de HbA1c em afrodescendentes, hispânicos e asiáticos. Entretanto, a correlação entre complicações crônicas do diabetes e da HbA1c elevada persiste.

Avaliando a prevalência de retinopatia, os pacientes afrodescendentes apresentaram HbA1c menores em comparação com caucasianos. Independentemente da etnia, as complicações diabéticas podem ser evitadas com a manutenção de HbA1c baixa.

Gestantes no último trimestre de gestação podem apresentar HbA1c falsamente elevadas em de- corrência da anemia ferropriva, não existindo uma padronização.

FRUTOSAMINA

O processo de glicação também acontece em outras proteínas, além da hemoglobina. A frutosamina sérica pode ser usada em substituição à HbA1c, pois apresenta uma boa correlação.

Alguns ensaios são mais fáceis de realização e mais baratos que a dosagem de HbA1c. A utilização da frutosamina é indicada para a monitorização mais precoce, pois a meia-vida é mais curta que a hemoglobina (28 dias), refletindo a média de glicemia nos últimos 10-15 dias.

A frutosamina não deve ser usada em pacientes com síndrome nefrótica ou desnutrição pela sua menor concentração, e, consequentemente, valores falsamente baixos.

A HbA1c é uma excelente ferramenta para o diagnóstico e o seguimento de pacientes com diabetes, mas não podemos nos esquecer das suas limitações, principalmente o longo período que reflete. Da mesma maneira, a frutosamina também pode ser usada para as avaliações mais recentes, mas também possui limitações. Assim o novo biomarcador 1,5 anidroglucitol pode auxiliar na avaliação rápida das variações glicêmicas e nas situações em que a HbA1c e a frutosamina são limitadas.

1,5 ANIDROGLUCITOL, UM NOVO BIOMARCADOR PARA AVALIAÇÃO RÁPIDA DAS VARIAÇÕES GLICÊMICAS

O 1,5 Aminoglucitol (1,5 AG) é um monossacarídeo semelhante à glicose, diferenciando-se desta apenas pela ausência de um grupo hidroxila (OH) no carbono 1 (C1), tornando-o uma 1-deoxi-glicose (figura 1). Esta molécula foi isolada inicialmente da Polygala senega, depois se constatou que estava presente em alta quantidade na soja, em outros cereais e nas carnes; atualmente se sabe que está presente em praticamente todos os alimentos. A síntese endógena parece contribuir com apenas 10% do composto no organismo. Apesar da fonte dietética, o fato de ser um composto metabolicamente inativo e ter meia-vida longa, faz com que seja mantido um pool relativamente grande e concentração de 1,5 AG constante.

Em condições normais, praticamente todo o 1,5AG é filtrado pelo rim a uma taxa de 5a10g/L. Em seguida, 99% são reabsorvidos no Tubo Contornado Proximal (TCP), o que ocorre por meio de competição com a glicose pelos transportadores sódio/glicose (Sodium/Glucose Transporters -SGLT) que, assim como para a glicose, também têm afinidade para 1,5 AG (figura 2a).

Na hiperglicemia, a glicose está em excesso no filtrado que chega ao TCP, o maior oferecimento de glicose leva à reabsorção mais baixa de 1,5 AG e, consequentemente, mais deste monossacarídeo é eliminado na urina levando à diminuição de seus níveis no sangue (figura 2 b). Desse modo, a consequência direta da hiperglicemia é o 1,5 AG mais baixo no sangue.

A magnitude da alteração do 1,5 AG no sangue depende da magnitude da hiperglicemia e, consequentemente, da glicosúria. A duração da alteração do 1,5 AG também é proporcional a uma alteração de glicemia, refletindo os seus níveis rapidamente, em 24 a 72 horas após, seja hiperglicemia ou sua normalização. Desse modo, é um indicador sensível das variações glicêmicas.

As principais indicações para a dosagem do 1,5 AG são:

. Situações em que a manutenção do controle glicêmico mais estrito é necessária;

. Como indicador de glicemias pós-prandiais recentes em pacientes com glicemias pré-prandiais normais, mostrando, precocemente, possíveis elevações de glicemia nesse período;

. Na gestação, em que está habitualmente mais baixo. Estudos indicam que a sua concentração sérica poderia permitir a discriminação entre gestantes saudáveis e com DM gestacional (DMG) até a 23a semana e serviria como um exame auxiliar para o diagnóstico. Futuros estudos populacionais serão necessários para permitir a recomendação deste como um marcador para triagem ou diagnóstico do DMG em estágios precoces da gestação.

A figura 3 compara, esquematicamente, os tempos que cada marcador indica em relação à resposta à variação glicêmica.

Em relação às limitações quanto à sua interpretação, não se sabe até que ponto os níveis de 1,5 AG poderiam ser afetados pela Doença Renal Crônica (DRC), havendo relatos de correlação negativa entre o 1,5 AG e a creatinina em indivíduos com DRC. Em relação à interferência analítica, a creatinina somente altera o 1,5 AG quando acima de 10 mg/dL.

Concluindo, o 1,5 AG permite tanto a avaliação em curto prazo do controle glicêmico inadequado com picos de hiperglicemia, que cursam com diminuição de 1,5 AG no sangue, como do restabelecimento do estado glicêmico, com retorno de 1,5 AG para valores normais. Desse modo, a dosagem 1,5 AG pode desempenhar um papel adjuvante no controle do DM, especialmente como um marcador único de curto prazo para as excursões de hiperglicemia para além do limiar glucosúrico.

REFERÊNCIAS

www.dasa.com.br/referencias

*Dra. Rosita Fontes

Endocrinologista e preceptora de residência médica em endocrinologia do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luis Capriglione (IEDE/RJ); Professora associada do curso de especialização em endocrinologia e metabologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ); Médica da DASA.

*Dra. Suemi Marui

Doutora em endocrinologia-FMUSP; Chefe da Unidade de Tireoide; Disciplina de endocrinologia HC-FMUSP; Assessora em endocrinologia DASA.

Por que doenças controladas estão ressurgindo no século 21

Por que doenças controladas estão ressurgindo no século 21

Dentre os avanços no serviço de saúde no Brasil está a vacinação. Estamos entre os países mais avançados na área. Doenças como o sarampo, meningite, coqueluche, hepatite, entre outras, hoje, estão controladas graças ao elevado índice de imunização. Enfermidades que, há poucas décadas, registravam números de óbitos preocupantes, principalmente em crianças.

No último ano, vivemos a chegada da vacina da dengue pelas redes particulares, o que foi um ganho enorme para o controle da doença. Além disso, o Brasil tem avançado na vacina brasileira, além de estar investido em pesquisas para o desenvolvimento de outras vacinas, como contra o zika e a chikungunya.

Entretanto, nos últimos anos, uma das doenças erradicadas no Brasil alertou as autoridades de saúde. Trata-se do sarampo. Após o registrado 147 casos em quatro países das Américas, sendo 121 nos Estados Unidos, 21 no Brasil, quatro no Canadá e um no México, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Pan-Americana de Saúde (Opas) emitiram um alerta ao continente Americano quanto ao risco de disseminação.  Mas como uma doença controlada pode ganhar força novamente? É o que vou tentar responder.

Em 2002, atingiu-se a impressionante meta de interromper a circulação do sarampo nas Américas. No entanto, desde 2003, e mais drasticamente em 2013 e 2014, houve um absurdo aumento do número de casos, não só nas regiões em desenvolvimento, como Brasil e México, mas também nos Estados Unidos e Canadá, o que trouxe maior preocupação às organizações de saúde. Entre 2003 e 2014 atingiu-se o número de 5.077 infectados. No Brasil, já são 971 casos em nove estados: Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina e Roraima. O Canadá recentemente teve duas epidemias nas províncias de Ontário e Quebéc. Os Estados Unidos vivem atualmente um surto epidêmico no estado da Califórnia, mas com casos em outros 17 estados.

O sarampo é uma doença viral, de fácil disseminação, que possui altas taxas de mortalidade entre crianças menores de cinco anos. Até o final dos anos 70, era uma das principais causas de óbito no Brasil, dentre as doenças infectocontagiosas, sobretudo em menores de cinco anos, em decorrência de complicações, especialmente a pneumonia. Na década de 80, houve um declínio gradativo no número de óbitos. Essa redução foi atribuída ao aumento da cobertura vacinal e à melhoria da assistência médica ofertada às crianças com complicações pós-sarampo. Em 1992, o Brasil adotou a meta de eliminação do sarampo para o ano 2000, com a implantação do Plano Nacional de Eliminação do Sarampo, cujo marco inicial foi à realização da primeira campanha nacional de vacinação. Mas se a doença estava controlada, onde retrocedemos?

Os movimentos anti-vacina tem sido apresentados como os principais responsáveis. Atualmente, nos países que conseguem manter altos níveis de cobertura vacinal, a incidência do sarampo é reduzida. No entanto, a autonomia adquirida pela população para a prática não científica da medicina, baseada em fatos não comprovados, via redes sociais ou sites leigos, tem trazido prejuízos. Este movimento de desconstrução progressiva da autoridade médica tem contribuindo bastante para os extremos de negação das evidências científicas. Exemplo são os pais ideologicamente contra a vacinação na Califórnia/EUA, que gerou número suficiente de pessoas desprotegidas contra o vírus do sarampo, levando à epidemia.

Hoje, os médicos se tornaram quase dispensáveis. Claro que a autoridade absoluta do médico não é saudável. Mas negá-la a ponto de colocar crianças em risco, como no caso dos movimentos anti-vacinas não é o caminho. A sociedade precisa voltar ouvir os argumentos científicos da medicina baseada em evidências para que não ocorra ressurgimento de outras doenças do passado.

A vacinação continua sendo a forma mais segura de prevenção contra as doenças infectocontagiosas. Por isso fica o alerta: se informem antes de acreditar em boatos. As vacinas são seguras, desenvolvidas com base em estudos científicos. Atualizem o cartão de vacinas. Não coloquem a saúde em risco.

Zika Virus

Zika Virus

Entenda como o Zika Virus age no organismo e conheça o teste disponível para sua detecção

Exame realizado consiste no isolamento viral por técnica de RT-PCR, tanto no sangue quanto no líquor

Transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, mesmo transmissor da dengue e da febre chikungunya, o Zika Virus foi descrito pela primeira vez na África, em 1947. Os primeiros casos de transmissão dessa doença foram registrados no Brasil em abril deste ano, em Camaçari, na Bahia; porém, já foram notificados casos em 18 Estados brasileiros, como Amazonas, Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Maranhã, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Roraima, Rondônia, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins.

“O Zika causa febre, manchas avermelhadas pelo corpo, coceira generalizada e conjuntivite. Pode ainda ocasionar dores de cabeça, articulares e musculares, sintomas esses que duram de três a cinco dias”, afirma Dra. Ligia Pierrotti, infectologista que integra o corpo clínico do Laboratório Alvaro.

Ela explica que, em geral, a doença apresenta uma evolução sem grandes complicações. Entretanto, o Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz anunciou a presença de material genético do Zika em amostras do líquido amniótico de duas gestantes na Paraíba, com diagnóstico confirmado de microcefalia. Em seguida, o Ministério da Saúde confirmou a relação entre vírus e a microcefalia, depois do Instituto Evandro Chagas anunciar a identificação do vírus em amostras de sangue e tecidos de um recém-nascido do estado do Ceará, com microcefalia e outras malformações congênitas.

“A infecção durante a gestação, principalmente durante o primeiro trimestre da gravidez, quando a estrutura do bebê ainda está em formação, pode causar alterações do sistema nervoso central do feto em formação, ocasionando microcefalia e calcificações cerebrais”, destaca Dra. Ligia, lembrando que a transmissão do vírus de mãe para feto se dá através da placenta.

Dr. Alberto Chebabo, infectologista que também integra o corpo clínico do Laboratório Alvaro, explica que o exame realizado para detecção é o isolamento viral por técnica de RT-PCR, tanto no sangue quanto em outros materiais clínicos, como líquor, urina e saliva.

O RT-PCR é um exame de Biologia Molecular amplamente utilizado para procurar o genoma de determinados vírus nas amostras coletadas, verificando se há expressão gênica. “Se há uma proteína específica naquela amostra, significa que foi mapeado um RNA específico no resultado – no caso, o RNA do vírus Zika”, explica Dr. Chebabo. O método consiste em multiplicar a quantidade de RNA do vírus na amostra coletada, ou seja, amplificar o material genético do vírus para que seja possível identificá-lo quimicamente. “É um teste de alta complexidade”, reforça o médico.

Casos de microcefalia

O Brasil registra 1.761 casos suspeitos de microcefalia em 422 cidades de 14 estados, conforme o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Já está comprovada cientificamente a relação entre o Zika Virus e a microcefalia, que é um sinal de que o cérebro não se desenvolveu corretamente dentro do crânio. A medida padrão da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 32 centímetros para a triagem de bebês suspeitos. Com 33, o tamanho do crânio é considerado normal. “As imagens radiológicas do cérebro das crianças afetadas mostravam traços padronizados de calcificações característicos de infecções. Foi encontrado, em seguida, o vírus no líquido amniótico de grávidas e depois nos tecidos e no sangue de uma criança com microcefalia que veio a óbito”, afirma Dr. Heron Werner, ginecologista, obstetra e especialista em Medicina Fetal que também integra o corpo clínico do Laboratório Alvaro.

Ele afirma que a microcefalia pode ser detectada durante o Ultrassom realizado no próprio pré-natal, e em casos onde haja dúvida, pode ser realizada uma ressonância magnética para uma melhor averiguação. “Caso a gestante tenha tido infecção por Zika Virus, isso não significa que necessariamente seu bebê desenvolva a microcefalia. No entanto, se isso ocorrer, o bebê sofrerá complicações neurológicas, intelectuais e complicações motoras significativas”, afirma ele.

Observação

O Laboratório Apolo oferece os exames de Sorologia pra Zika Vírus em seu menu, realizados internamente com alta qualidade e tecnologia e com resultado no mesmo dia.

Teste sorológico IgM, que identifica anticorpos na corrente sanguínea, recomendado para gestantes com ou sem sintomas da doença no pré-natal, repetindo o procedimento ao final do 2º trimestre da gravidez, para bebês de mães com diagnóstico de infecção pelo vírus Zika, e aos recém-nascidos com malformação congênita que podem ser sinal de infecção pelo vírus;

Teste sorológico IgG, para verificar se a pessoa já teve contato com Zika em algum momento da vida, para gestantes ou recém-nascidos que obtiveram resultado positivo na pesquisa de anticorpos IgM.

O Laboratório Apolo disponibiliza todos os exames com rígidos padrões de qualidade e rapidez de entrega, para garantir mais saúde, segurança e comodidade.

Entre em contato conosco para maiores informações através do nosso site, Whatsapp ou Telefone de contato.

×