O que você coloca em seu prato é nutritivo? É importante pensar sobre isso para evitar a chamada “fome oculta”. Trata-se de uma ausência nutricional decorrente, em geral, da má absorção ou falta de micronutrientes para o pleno funcionamento do organismo.
Os micronutrientes se dividem em vitaminas – como A, C, E, B, ácido fólico, potássio – e minerais – ferro, zinco, iodo, selênio, manganês, molibdênio e outros – e estão em diversos alimentos de origem animal e vegetal. Para que os micronutrientes sejam absorvidos, é preciso ingerir macronutrientes carboidratos, glicídios, lipídeos, protídeos e água.
Em números, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma em cada quatro pessoas no mundo tem fome oculta. “Qualquer indivíduo pode apresentá-la. Entretanto, gestantes e crianças nos primeiros dois anos de vida estão mais propensas a essas carências”, comenta Paulo Giorelli, médico nutrólogo da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). As três maiores deficiências nutricionais no globo envolvem vitamina A, iodo e ferro – cuja carência (anemia) é considerada a mais comum no mundo -, indica a OMS.
A fome oculta não apresenta, em princípio, sintomas aparentes, explica a nutricionista Lenita Gonçalves de Borba, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, de São Paulo. Ela pode começar com cansaço e chegar até a apresentar questões severas. “Em estágios avançados, a fome oculta vira outras doenças, como envelhecimento precoce, complicações cardiovasculares e osteoporose. A condição ocorre porque muitos micronutrientes são responsáveis por prevenir estas enfermidades”, ilustra.
“Situações de estresse, verminoses, exercícios exagerados sem orientação e associados às dietas restritivas, intervenções cirúrgicas e até infecções estão na lista de outros distúrbios que podem enfraquecer o organismo e consequentemente dificultar a absorção de icronutrientes”, acrescenta ela.
Para identificar a fome oculta, é importante a consulta médica, em especial ao nutricionista e nutrólogo. O paciente é submetido a uma série de exames, que inclui a investigação do histórico alimentar e pode determinar as carências nutricionais. Após esta fase, é prescrita a dieta, aliada à atividade física e, dependendo do quadro, indicado o uso de suplementações.
Segundo os especialistas, o grande dilema está na diversificação da alimentação diária. Ora exageramos nas massas, carnes e guloseimas, ora “pulamos” refeições ou apenas comemos a “dupla” alface e tomate. Estas práticas são prejudiciais.
Portanto, melhoria alimentar se resume em uma palavra: equilíbrio. “Todos os alimentos, in natura ou industrializados, quando consumidos adequadamente, são fontes saudáveis. No entanto, devemos ter consciência de hábitos alimentares sem restrições e exageros”, observa a engenheira de alimentos Ana Maria Giandon, consultora em assuntos regulatórios da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad).
A afirmação tem sentido: consumir muito açúcar, sódio, carboidrato, gordura saturada e não ingerir frutas, verduras e leguminosas são hábitos que, somados ao sedentarismo, desencadeiam os temidos excessos de peso e obesidade. O hábito de fazer um prato, dito “colorido”, deve ser passado desde cedo. A alimentação balanceada inclui cafés da manhã com frutas, pães, fibras e cereais integrais; almoços com variação de verduras e legumes, opções de proteínas – carnes magras vermelhas (bovinas) e brancas (peixes e aves). E mais: lanches e jantares leves, além de não ignorar refeições, moderar com carboidratos (massas), doces, refrigerantes e frituras.
Giandon esclarece ainda que a adição de vitaminas e minerais aos alimentos industrializados está prevista na legislação brasileira como alternativa de consumo dos micronutrientes. “O problema não é comer um biscoito vitaminado, mas sim quando existe o exagero nesse ato. O cenário atual é que, por conta da falta de tempo, as pessoas acabam se alimentando inadequadamente. Substituem uma fruta por um doce, por exemplo”, enfatiza.
Isso reforça o fato de que o acesso fácil ao alimento não implica uma refeição equilibrada. “Para que ocorra uma nutrição eficiente, é necessá-ria uma dieta balanceada. É preciso identificar e valorizar os alimentos com alto valor nutritivo, respeitando as diferenças regionais presentes no País”, destaca o nutrólogo Giorelli. Afinal, o fio condutor da saúde está na boa alimentação, por isso, é essencial pensarmos no que comemos.